segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Eu acredito na inerrância

Ultimamente tenho me deparado com algumas citações, depoimentos e vídeos na internet defendendo a não inerrância bíblica. Como jornalista, posso dar meu depoimento de como as falas dos entrevistados na grande maioria das vezes não são expostas na matéria como de fato são ditas. É bastante raro redigirmos na íntegra o depoimento dos entrevistados, já que a linguagem jornalística deve ser clara e culta, porém acessível a todos. Por causa do regionalismo e do coloquialismo, é impossível escrever nas matérias da mesma maneira que os entrevistados falam. Da mesma forma, os redatores das Escrituras utilizaram processos comunicativos diversos, tais como linguagem comum, linguagem rebuscada, arredondamento de dados, localização geográfica aproximada.
            Uma coisa que aprendi desde o primário é que não devemos escrever da mesma forma que falamos. Acredito que todos que escrevem conhecem perfeitamente essa regra. É um princípio básico para a objetividade textual e compreensão literária. No jornalismo não é diferente. Não que distorçamos os depoimentos, mas redigimos utilizando a norma culta, com respeito à língua oficial, a fim de deixar o entendimento mais claro possível aos leitores (mas também não sejamos inocentes neste assunto, pois é óbvio que há tanto profissionais éticos, quanto também os inescrupulosos que trabalham desonestamente, distorcendo falas, proporcionando outro sentido ao relato concedido pelo entrevistado).
            Da mesma maneira que trabalhamos com rigor ético – pelo menos eu como profissional assim o faço – cremos, pelas provas deixadas e pela fé, que a Bíblia é inerrante em sua essência, em seu objetivo e em sua forma escrita porque foi redigida e compilada pelas pessoas mais autorizadas para isto. É impossível termos maiores provas que o “papel”, pois na época que em as Sagradas Escrituras foram escritas não havia fotografia (arte que começou a ser inventada ainda na Antiguidade, com a descoberta do princípio da câmara escura, e de fato consumada em 1822) e não havia reprodução de áudio, pois o primeiro gravador de voz foi construído em 1857 (era capaz de registrar sons, mas não de reproduzi-los), sendo considerada a gravação mais antiga do mundo uma canção folclórica francesa, datada de 1860. Não precisamos falar que não existiam televisão, nem gravação de vídeo, pois seria um atentado à inteligência do leitor.
            Assim sendo, da mesma forma que um leitor de jornal impresso acredita nas entrevistas inseridas nas notícias, nas reportagens e em alguns artigos, e confiam na credibilidade de quem escreve (jornalistas), a Palavra de Deus foi escrita pelas pessoas mais confiáveis para tal ação. Não posso deixar de esclarecer quanto à existência dos incrédulos do jornalismo (eu me incluo muitas vezes nesta lista), como também não podemos ignorar o grande e crescente contingente de pessoas que não creem na veracidade das Escrituras.
            Assim sendo, vamos por partes. Primeiro, é necessário dizer que é impossível fazer uma boa leitura de um jornal se não acreditarmos no compromisso ético do jornalista para com a sociedade. Não é à toa que quando desconfiamos da credibilidade dos editores de um jornal ou de um jornalista (empregado da empresa), não damos a menor importância para os fatos relatados pelo periódico. Da mesma forma, se não acreditamos na veracidade do compromisso dos autores bíblicos para com Deus, tampouco acreditaremos na fidedignidade do conteúdo das Sagradas Escrituras.
            É importante entender que crer ou não crer na inerrância bíblica é primeiramente uma questão de fé. Mas a fé a que me refiro não é apenas uma fé cristã, mas uma esperança de que aqueles escritos podem ser verdadeiros, sendo, portanto, possível de serem estudados tanto por crentes quanto por descrentes. Entretanto, se o estudante inicia de antemão com pressupostos darwinistas, por exemplo, é absolutamente estúpido tentar estudar as Escrituras.
Da mesma maneira, não recomendo que uma pessoa que não acredite na credibilidade do Jornal Nacional, por exemplo, seja forçada a assisti-lo, pois de nada adiantaria, sendo apenas perda de tempo. Se não há fé que no meio jornalístico não haja jornais e jornalistas éticos, então fica impossível ler algum informativo. Respaldarei meu pensamento na famosa frase de Martinho Lutero que uma vez disse: “é perigoso e errado agir contra a própria consciência”. Essa consciência pode, como deve, ser levada a todas as esferas que compõem nossas vidas, seja no âmbito religioso, doutrinário, social, econômico e político, sendo nós ateus ou cristãos. O ser consciente é indubitavelmente um ser crítico. Lutero foi um grande crítico da Igreja Católica. Ele, como a própria História da Humanidade nos mostra, criticou e fez (lógico que não fez nada sozinho, mas talvez por ter saído de dentro do catolicismo é que o considero o mais ousado crítico da história da Reforma Protestante).
            Um leitor inteligente, que não acredita na veracidade das matérias de determinado jornal, sabe perfeitamente porque não crê. Um dos principais motivos que levam um leitor a desacreditar de um jornal brasileiro é o envolvimento direto ou indireto que os donos da empresa tenham com política. No Cristianismo, a situação não é tão diferente. O que se ouve nos círculos universitários e em meio a “cristãos” liberais é algo mais ou menos como: “Não sabemos como surgiu o cânon bíblico”, “Como terei certeza que a Igreja Católica não deturpou passagens bíblicas durante a Idade Média?”, “Por que uns livros foram considerados sagrados e outros da mesma época não foram?”, “Por que em determinadas passagens bíblicas os números são contraditórios?”.
            Um bom pesquisador adentra fundo em uma pesquisa sem nenhuma premissa. Cientistas que creem em Darwin e procuram saber mais sobre a existência de Cristo muito provavelmente concluirão suas pesquisas afirmando que Cristo não existe. Da mesma forma que um cientista de fé não analisa com cuidado os dados que possui em suas mãos e, na ânsia de provar a existência de Jesus, conclui suas pesquisas deixando vários espaços inconclusos, apenas deixará o darwinista ainda mais satisfeito com a sua incredulidade por Cristo.
            Acredito que da mesma maneira que precisamos conhecer a ideologia de quem está por trás dos bastidores dos jornais, necessitamos saber como as Escrituras foram compiladas e por quem foram escritas para acreditarmos nelas. Não é pecado duvidar, o pecado surge quando afirmamos algo sem saber. O pecado existe quando há dúvidas e, por medo de sermos taxados de “não-convertidos” ou “lobo vestido de cordeiro”, fingimos acreditar no que não acreditamos, por falta de conhecimento bíblico.
Outro erro cruel que tenho percebido no meio da igreja é a atitude de alguns pastores (de várias denominações) com relação às ovelhas que perguntam demais. Já olham desconfiados, passam a desacreditar da fé das próprias ovelhas só porque elas questionam. Essa atitude simplesmente afasta os fiéis e aumenta o contingente de desigrejados. No meio científico sério, perguntas impulsionam pesquisas. Pastores sérios também deveriam ser impulsionados pelas perguntas de suas ovelhas a estudarem mais as Escrituras. Perdão pela minha sinceridade, mas, do que serve um pastor que não sabe Bíblia? Entendo pelo Novo Testamento que os pastores servem para doutrinar a igreja e apascentar o rebanho. Doutrinar significa ensinar e ensino é um processo contínuo de perguntas e respostas. Creio que pastores que se incomodam com perguntas são pastores que não possuem respostas. Ovelhas que têm senso crítico não suportam pastores que não possuem respostas. Isso não é falta de fé, nem falta de respeito, é apenas questão de lógica.
Para se compreender a inerrância bíblica, primeiramente você deve estar disposto a analisar cautelosamente a Palavra e, mesmo sendo ateu convicto, evitar colocar premissas antes de iniciar o estudo. Da mesma maneira, um cristão convicto deve estudar sem medo o grego e o hebraico e, mesmo tendo fé, não ter medo de duvidar e investigar até alcançar respostas. Há bons livros de Teologia Sistemática, Teologia Bíblica, Grego e História da Igreja que auxiliarão o estudante nesta jornada. Boas dicas de Teologia Sistemática são as de Wayne Grudem (editora Vida Nova) e a de Franklin Ferreira e Alan Myatt (também editora Vida Nova). Antes de ir direto aos livros, como bom crítico, investigue os seus autores e a linha editorial da editora. Antes de acreditar em vídeos ou artigos de internet, faça um bom estudo, tire suas dúvidas e tenha uma boa descoberta quanto à inerrância bíblica. 

Caline Galvão

2 comentários:

Espero que o texto tenha edificado ou tenha feito você refletir! Deus te abençoe.