sábado, 1 de outubro de 2011

Chuvas e tragédia no Nordeste


BR 101
Sexta-feira, 18 de junho de 2010. A chuva torrencial nos estados de Pernambuco e Alagoas transformou dezenas de cidades em um cenário de pós-guerra. Segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a imagem dos municípios atingidos pelas águas naqueles estados era semelhante à destruição ocorrida no Haiti, quando um terremoto matou 200 mil pessoas em janeiro deste ano.

Em Pernambuco, foram 54 municípios atingidos, enquanto em Alagoas foram 59 cidades afetadas pelas chuvas. Para se ter noção da força das águas, o psiquiatra Anchieta Caracilo, que trabalha no Hospital Psiquiátrico em Barreiros/PE, em entrevista à revista Isto É, contou que naquele dia a luz havia faltado no hospital e o único som que se ouvia era o barulho das águas que desciam pelas ruas como uma cachoeira.

Na semana das festividades de São João (24 de junho em diversos municípios da Paraíba e Pernambuco é feriado), o presidente da ALIANÇA, juntamente com um grupo de oficiais de sua igreja, fez uma visita a uma das cidades mais atingidas pela tragédia. Palmares/PE está localizada a 120 quilômetros de Recife. “Quando você chega ao local, o primeiro aspecto que você percebe é o terrível odor que está impregnado em toda cidade”, relata Pr. Aurivan Marinho.

Muito lixo, lama e animais mortos estão espalhados pelas ruas de Palmares. A prefeitura da cidade já havia realizado uma limpeza no município, mas depois que os moradores começaram a retirar os destroços e a lama de suas próprias casas, a sujeira retirada das residências está sendo colocada nas ruas. “As pessoas não necessitam apenas de cestas básicas, há falta de tudo: cama, pratos, copos, roupas, enfim, é reconstrução a começar do zero”, explica Pr. Aurivan.

A Igreja Evangélica Congregacional em Palmares, filiada à União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB), foi bastante atingida, chegando a ter água no teto do templo. Segundo a missionária Sílvia Letícia, da IEC em Casa Amarela (Recife), 80% dos irmãos que congregam naquela igreja perderam tudo. “A cidade cheira mal. As pessoas andam com mochilas plásticas nos pés e máscaras no rosto. Segundo o pastor Erikson, quando as águas baixaram um pouco, corpos começaram a ‘passar pelas ruas’ e também pendurados nas fiações, terrível!”.

A missionária Sílvia Letícia trabalha em uma congregação no município pernambucano de Escada, que foi pouco atingido pelas chuvas. Sua congregação irá a Barreiros levar mil litros de água potável, roupas e utensílios, da mesma forma que fizeram em Palmares. Ela explica que as igrejas deveriam se mobilizar para entregar doações de maneira pessoal, pois os donativos dos postos de arrecadação não estão chegando aos realmente necessitados.

"É indescritível a cena da ponte construída pelo Governo Federal com a duplicação da BR 101. Quando você olha toda aquela estrutura de concreto e vê o que a água fez... Está como se fosse um jornal amassado”, relata Pr. Aurivan. O pastor recorda o depoimento de uma senhora chamada Jaciara que oscilava entre euforia e tristeza. “Aquela mulher parecia ter duas personalidades, tinha muita força e empolgação ao dizer ‘vamos reconstruir’, mas, ao mesmo tempo, com olhar triste afirmava que tentava ser forte, mas era muito difícil”.

Várias igrejas da Zona da Mata de Pernambuco e de João Pessoa já estão se mobilizando para arrecadar doações de todos os tipos, desde alimentos não perecíveis até utensílios domésticos, roupas e materiais para banho. Segundo o presidente da denominação, só mesmo estando presente nas cidades afetadas para se ter uma noção da dimensão do estrago. “Você vai ver mil imagens na TV, dezenas de pessoas vão tentar te descrever, mas para que se tenha uma verdadeira percepção da realidade, só mesmo indo lá”. “O olhar das pessoas não apenas revela a satisfação em receber donativos, mas em perceber que você está interessado em compartilhar com elas as mesmas dores”, continua Pr. Aurivan.

A tragédia no Nordeste teve início em Pernambuco e seguiu para Alagoas, estado que ficou em situação pior. Isso se deve porque os rios alagoanos são afluentes dos pernambucanos, então quando a chuva chegou em Alagoas, a força e a quantidade das águas foi bem maior. No ano de 2002, fortes chuvas afetaram a cidade de Palmares, por conta disso, os moradores construíram outro andar sobre suas casas, para que quando voltasse a chover forte, eles pudessem deslocar seus objetos para o piso superior. Mas a chuva deste ano não deu trégua: atingiu inclusive o segundo andar de todas as residências.

Para o presidente da ALIANÇA, as cidades mais atingidas não conseguirão retornar às normalidades antes de seis meses. “Alguns setores da cidade de Branquinha, que foi muito afetada, deverão ser reconstruídos em outras localidades”. Segundo ele, essa é uma ótima oportunidade para reflexão e ação da igreja. “A gente demonstra insatisfação com tudo, mas diante da dor e sofrimento por motivos reais, acabamos percebendo o quanto temos que agradecer. Participar da vida dessas pessoas acaba sendo uma grande bênção, a gente cresce e aprende muito”.


Mobilize sua igreja também! "E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhe disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos, e lhe não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim, também, a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma". (Tiago 2:15-17)


Reportagem escrita por Caline Galvão, intitulada "Chuvas e tragédia no Nordeste", publicada no jornal Aliança Congregacional, nº46, maio/junho de 2010, pg. 14.

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